
A burocracia é comumente associada à organização, controle e legalidade. Mas sob a aparência de neutralidade e racionalidade, ela pode esconder um mecanismo cruel e profundamente excludente. No contexto jurídico, isso se manifesta quando o acesso à justiça se torna um labirinto intransponível: processos lentos, linguagem técnica, exigências formais e um distanciamento brutal da realidade concreta das pessoas.
Max Weber já apontava a burocracia como uma das formas mais eficazes de dominação racional-legal. Porém, quando desprovida de humanidade, essa mesma estrutura se transforma em obstáculo. Michel Foucault vai além: a burocracia opera como uma tecnologia de poder, em que o controle é exercido por meio da documentação, da linguagem e do tempo — elementos que não são neutros, mas carregados de seletividade social.
Em países como o Brasil, onde grande parte da população tem acesso limitado à educação e à informação jurídica, o efeito é claro: direitos existem, mas estão presos em um sistema que dificulta o seu exercício. Um cidadão comum, ao tentar resolver uma simples demanda, se vê diante de barreiras que exigem conhecimento técnico, recursos financeiros e resistência emocional. Isso exclui, marginaliza e aprofunda desigualdades.
Não é à toa que muitas pessoas desistem de recorrer à Justiça, não por falta de razão, mas por exaustão. O sistema deveria servir às pessoas — e não se proteger delas. Quando o Direito se transforma em um conjunto de obstáculos e protocolos que distanciam o cidadão da justiça, ele deixa de ser ponte e passa a ser muralha.
Quando o Direito se torna um labirinto, ele ainda serve à justiça ou apenas à manutenção do poder?