
O ser humano é realmente livre para tomar suas decisões ou apenas segue caminhos já determinados pela biologia e pelo ambiente em que vive? Essa é uma questão que atravessa a filosofia há séculos e tem implicações diretas no direito e na forma como responsabilizamos as pessoas por seus atos.
O sistema jurídico parte da premissa de que as pessoas têm controle sobre suas ações e, portanto, podem ser responsabilizadas por elas. Se alguém comete um crime, é porque escolheu fazê-lo e deve ser punido. Mas será que realmente fazemos escolhas livres ou apenas seguimos padrões previamente estabelecidos pelo meio em que crescemos, pela genética e por nossas experiências de vida?
O filósofo Spinoza argumentava que todas as nossas ações são determinadas por fatores externos e internos que fogem ao nosso controle. Nossa criação, contexto socioeconômico, traumas e até predisposições biológicas influenciam nossas decisões mais do que imaginamos. Se isso for verdade, o direito estaria punindo indivíduos por algo que nunca esteve, de fato, sob o controle deles?
Por outro lado, Jean-Paul Sartre defendia que somos radicalmente livres. Para ele, mesmo que fatores externos influenciem nossas decisões, a escolha final é sempre nossa. Somos responsáveis por tudo o que fazemos e não podemos culpar as circunstâncias. Se seguirmos essa linha de pensamento, o direito se justifica plenamente ao punir aqueles que violam as normas da sociedade. Afinal, cada um de nós tem o poder de decidir entre o certo e o errado.
Pesquisas científicas sugerem que nossas decisões são tomadas pelo cérebro antes mesmo de termos consciência delas. Isso significa que o "livre-arbítrio" pode ser apenas uma sensação ilusória. Se isso for verdade, qual seria o impacto para o direito? Poderíamos continuar responsabilizando criminosos por suas ações? Ou o sistema penal deveria focar apenas na reabilitação, sem a ideia de punição como consequência moral de um ato? Se tudo o que fazemos já está predeterminado, faz sentido termos leis que punem escolhas que, na verdade, nunca foram escolhas? O direito deve se adaptar a essa possibilidade?